Ce reino encantado
Oh sinfonia, a patativa que cantou
Isso é o refrão de Narainã, a Alvorada dos Pássaros. Um samba de 1977 que conta uma lenda indígena sobre uma jovem que se transformou em pássaro devido a uma promessa que foi feita a um pajé.
O sucesso da música foi tanto que acabou sendo eleita como o samba do século do carnaval de São Paulo em 1999, através de um concurso promovido pelo jornal Folha de São Paulo. A canção é uma parceria de três compositores que fizeram história: Jordão, Zelão e Ideval Anselmo, mais conhecido como Seu Ideval.
Entre os compositores, Seu Ideval é considerado um símbolo no mundo do samba. Atualmente com 84 anos, ele tem mais de 25 sambas de enredo, além de outras composições. Cantores como Eliana de Lima, Thobias da Vai-Vai, Fabiana Cozza e Originais do Samba gravaram suas músicas.
Em mais um episódio, o podcast Memórias de Batuque apresenta a história de Seu Ideval, que é considerado um griot do carnaval. Nascido em 1940, em Catanduva, ele aprendeu música dentro de casa, com sua família. Começou a tocar trompete na banda da cidade ainda na adolescência.
"Eles diziam 'nossa ala de compositor'. Eu não sabia nada disso, e perguntei pra uma pessoa que já estava dentro do carnaval, conhecido nosso que depois veio a ser parceiro de música minha. Ele me explicou o que era a ala de compositores. Então eu vou entrar na ala de compositores", relembra seu Ideval.
Assim, ele começou uma trajetória cheia de sambas únicos, que marcaram escolas como a Camisa Verde e Branco, Tom Maior, Rosas de Ouro e Unidos do Peruche.
Uma parte desse trabalho ficou gravada em um disco autoral de 2012, que faz parte do projeto Memória do Samba Paulista, do Kolombolo Diá Piratininga.
Hoje seu Ideval não desfila mais nem compete com enredos, mas seu coração de compositor nunca parou de produzir canções e melodias. / Foto: Lela Beltrão
"Seu Ideval é um gigante compondo. A caminhada dele nos sambas-enredo é formidável, Nairanã é uma obra-prima. Grande compositor", afirma Fernando Ripol, fundador do Samba do Congo, um grupo de compositores do noroeste de São Paulo.
Atualmente, Seu Ideval não desfila mais. Ele ainda compõe, mas não quer participar de disputas de samba enredo. Nesses mais de 50 anos de carnaval, a estrutura dos desfiles mudou.
"Essa de fazer samba descritivo, direto para o jurado, quebrou o ânimo do pessoal que vai assistir o carnaval e quer cantar. Esse samba técnico é longo, e o samba tem que ser irreverente. A festa é popular, a festa é do povo", afirma.
Sobre o podcast
Memórias de Batuque - a história viva e negra do samba paulistano é uma produção da agência de notícias Alma Preta em parceria com o Brasil de Fato.
O objetivo é fortalecer a memória do carnaval e revisitar momentos importantes para a construção da festa.
Na primeira temporada, serão apresentadas histórias de pessoas fundamentais para o samba de São Paulo, como Carlão do Peruche, Maria Helena Embaixatriz, Seu Ideval e Seu Chiclê.
Os episódios estão disponíveis nas principais plataformas de podcast.
Edição: Matheus Alves de Almeida
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